The three of Berlin
April 2021. Schellingstraße, Berlin, GE
A 23 de Março de 2021, somente uns dias após ter sido levantada a proibição de entrada na Alemanha de viajantes oriundos de Portugal, embarquei rumo a Berlim. Depois de uma viagem longa, que incluiu uma estadia de uma noite no terminal do Aeroporto Internacional Adolfo Suárez, lá fui recebido por uma Berlim cinzenta e chuvosa.
Nas semanas seguintes, os três amigos que, tal como eu iniciavam uma aventura Erasmus de seis meses, juntaram-se a mim. Na nossa experiência, a cidade era curiosidade e entusiasmo e descobri-la era uma tarefa diária.
Neste dia, saídos de casa apanhámos o metro ali ao pé, na estação Tiergarten, e rumamos para sul. Depois, caminhamos na direção oposta observando tudo o que podíamos. Passado o parque em Gleisdreik terminámos o dia num dos centros urbanos, vazio ao sábado.
Um determinado pormenor no grande edifício de vidro e metal do arquiteto Renzo Piano (pormenor de que não tenho recordação) fez-me ficar para trás enquanto o restante grupo subia a Schellingstraße. Sem pessoas, sem carros, haviam-se apoderado da rua percorrendo-a imperfeitamente ao centro. Este é o registo desse momento.
Não posso dizer que este foi o início da admiração pelo ordinário mas é talvez o primeiro episódio em que me apercebo do potencial da fotografia na sua representação e, mais importante, a perceção de ser algo que queria desenvolver.
Afinal, este é o registo de três pessoas que percorrem uma rua.
On 23 March 2021, just a few days after the ban on travellers from Portugal entering Germany was lifted, I set off to Berlin. After a long trip, which included a one-night stay in the terminal at Adolfo Suarez International Airport, I was greeted by a grey and rainy Berlin.
In the following weeks, I was joined by three friends who, like me, were starting a six-month Erasmus adventure. In our experience, the city was curiosity and excitement and discovering it was a daily task.
On this day, we left home and took the underground at the Tiergarten station and headed south. Then we walked in the opposite direction observing everything we could. Having passed the park in Gleisdreik we finished the day in one of the urban centres, empty on Saturdays.
A certain detail in the large glass and metal building by the architect Renzo Piano (a detail I have no recollection of) made me stay behind while the rest of the group walked up Schellingstraße. Without people, without cars, they had taken over the street, walking imperfectly in its centre. This is the record of that moment.
I cannot say that this was the beginning of my admiration for the ordinary, but it is perhaps the first episode in which I realised the potential of photography in its representation and, more importantly, the realisation that it was something I wanted to develop.
After all, this is the record of three people walking down a street.